Você encontrou um imóvel no lugar onde sempre sonhou, mas a disposição interna ou o tamanho não é exatamente aquele que imaginava? Unir cômodos ou mesmo dois apartamentos vizinhos pode ser uma opção - em tempos de imóveis compactos, é, inclusive, cada vez mais adotada por compradores. Especialistas lembram, no entanto, que deixar a residência com a cara do morador requer cuidados com a parte estrutural. E ressaltam que esta alternativa deve ser muito bem avaliada, pois, futuramente, pode tornar mais difícil a venda do bem.

As construtoras estão atentas para a tendência. Há três anos, a Pinheiro Pereira desenvolveu o selo Flexibility para alguns de seus empreendimentos, permitindo que os compradores façam modificações na planta. O selo tem duas linhas: uma em que o cliente pode fazer qualquer modificação no apartamento e outra em que pode escolher a sua planta entre um leque de opções. Para evitar atrasos na obra, as solicitações de mudanças no imóvel só podem ser feitas para compras até 12 meses após o lançamento do empreendimento. Claudio Acyr, sócio fundador da Pinheiro Pereira, diz que unir dois imóveis também é uma alternativa viável.

“Mudar o layout do imóvel, unindo ou mudando o tamanho de cômodos, é algo cada vez mais procurado. Assim, podemos atender às necessidades de cada comprador. Fazemos isso em 90% dos nossos empreendimentos. No Flexibility, o comprador conta com a orientação de uma arquiteta, que dá ideias, esclarece dúvidas e mostra possibilidades. Sem custo adicional pelo serviço”, revela Acyr.

Um detalhe importante é que as modificações nem sempre implicam custo extra:
“Fazemos uma planilha de débitos e créditos: se uma pessoa une dois cômodos e deixamos de fazer uma parede que estava prevista, por exemplo, o valor que seria gasto com ela vira crédito para o comprador. Essa diferença pode ser usada em acréscimos de acabamentos na segunda fase da obra.”

A arquiteta Monique Granja frisa que, caso a mudança da disposição dos cômodos não seja feita pela construtora do imóvel, é necessário ter a planta em mãos para não correr o risco de se deparar com uma coluna de sustentação ou furar um cano por acidente. Ela afirma que em vários de seus projetos recentes optou por unir cômodos, principalmente como forma de ampliar espaços:

“É uma boa alternativa quando a planta do imóvel permite, porque hoje os apartamentos estão cada vez mais compactos. Há imóveis de três quartos com apenas 80 metros quadrados. Nesses casos, tenho dado ênfase à abertura do quarto que dá para a sala, transformando-o num quarto reversível: de dia ele é parte da sala, e à noite volta a ser um dormitório para hóspedes, por exemplo. Assim, você consegue driblar a metragem quadrada pequena.”

Em um apartamento na Barra com apenas 70 metros quadrados, Monique integrou a cozinha à sala de estar transformando a parede numa bancada (única divisão física entre os espaços), usando revestimento de pastilhas de coco em toda parte frontal da parede.

“Quando você entrava neste imóvel, já estava num corredor, que era a lateral da cozinha. Quando tirei parte dessa parede, deixando apenas uma bancada, passei a ter a visão da sala por completo, aumentando os espaços. Coloquei ainda um espelho na parede que restou na sala de jantar, refletindo a iluminação que vem da varanda e dando uma sensação de amplitude ainda maior e um visual mais limpo”, explica. - Para esconder uma viga que ficou aparente, fiz uma cobertura com gesso.

Sócio da construtora Comasa, Antonio Carlos Rego Moraes ressalta que, antes de fazer modificações, a pessoa deve avaliar os aspectos funcionais da nova disposição dos cômodos. Ter a orientação de um engenheiro e comunicar ao síndico a obra pretendida também é sempre recomendável. De acordo com ele, unir dois imóveis é uma opção arriscada, pois geralmente causa dificuldades na hora de vender.

“A pessoa precisará fazer um investimento extra para realizar as adaptações no imóvel. Cada empreendimento tem um perfil sócio econômico, um público-alvo especifico. E também sua estética e funcionalidade. Quando você for vender, vai ter mais dificuldade de fazê-lo se forem dois imóveis unidos, e vai perder dinheiro. E se você quiser desmembrar novamente, haverá uma segunda despesa”, diz, acrescentando que fazer mudanças em cozinhas e banheiros é ainda mais dispendioso por conta das instalações hidráulicas. “Há os custos de impermeabilização, ferragens e louças.”       O Globo-10/06/10  

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